No copo e na alma: três bartenders celebram a cultura nordestina na coquetelaria - Campari Academy

No copo e na alma: três bartenders celebram a cultura nordestina na coquetelaria

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No mês de agosto, é celebrada a Cultura Nordestina. Muito além de uma homenagem folclórica, é um lembrete da força criativa e histórica de uma região que influencia o Brasil inteiro. Para quem vive de contar histórias através de sabores, o Nordeste é mais do que uma referência: é território de origem, de afeto e de verdade.


Sol Cerqueira, Hilley e Vitória Olivier participaram da Campari Bartender Competition com propostas marcadas por identidade. São bartenders que criam com técnica, mas principalmente com alma. Conversamos com eles e as respostas nos ajudam a entender por que a coquetelaria nordestina é hoje uma das mais marcantes do país.

“Tudo o que eu sou acaba indo pro copo” – Sol Cerqueira | Bahia

Sol cresceu em Salvador, cercada por ingredientes, saberes e ritmos que hoje compõem sua coquetelaria. “Desde que comecei, entendi que tudo o que eu sou acaba indo pro copo. Minhas raízes, minha vivência como soteropolitana e nordestina… isso aparece no jeito que eu penso e crio.”.

Para ela, cada ingrediente carrega uma história, e cada história merece ser respeitada. “Não uso um insumo só por ele ser típico. Caju, cajá, umbu, mel de cacau, farinha de copioba – tudo isso tem alma. Eu penso na origem, em quem plantou, colheu, ensinou. É sobre memória, afeto e ancestralidade.”

Seu coquetel “Sotero” é um exemplo disso. Criado em Salvador, ele traz ingredientes que ressoam além da Bahia. “O Nordeste é a maior região do país, com nove estados e uma diversidade cultural imensa. O Sotero respeita isso. É um drink que, quando a pessoa bebe, sente: isso tem origem, tem verdade.”.

“Mais do que um sabor, é um território que se bebe” – Hilley | Bahia

Hilley cresceu cercado pela abundância do Nordeste: feiras, quintais e saberes populares formaram sua paleta de sabores. Hoje, ele traduz esse universo em técnicas precisas e inventivas.

“Na minha coquetelaria, aplico práticas como fermentações caseiras, cocções lentas, infusões em cachaças com madeiras nativas, e o aproveitamento integral dos ingredientes, das cascas às folhas. Tudo com muito respeito ao tempo do ingrediente e à história de quem o cultiva.”.

Se fosse criar um drink para traduzir o Nordeste, ele teria acidez de umbu ou cupuaçu, doçura de rapadura, amargor das cascas de cacau, mineralidade da água de coco e o frescor das folhas de pitangueira. “Seria rústico, técnico e afetivo. Um drink acessível, mas sensorialmente marcante.”.

Hilley também reforça algo essencial: “O Nordeste tem um dos repertórios botânicos mais ricos do Brasil, com cinco biomas e uma biodiversidade impressionante. Isso precisa ser valorizado não apenas por tendência, mas por respeito à nossa cultura.”.

“Cada drink é um ato de resistência e de afeto” – Vitória Olivier | Ceará

Vitória cresceu entre chás de quintal e histórias contadas no fogão. Tudo isso hoje está em sua coquetelaria, que emociona justamente por não querer agradar a padrões pasteurizados.

“O Nordeste não se traduz em um só sabor. Ele é mistura. É travoso e doce, salgado e defumado, tudo junto”, diz. Em sua criação para a Campari Bartender Competition, o coquetel “Guardiã”, ela usou cajá umbu com capim-santo, louro e alecrim, evocando memórias de infância.

“Eu gosto de drinks que não pedem licença. Chegam com presença. Que contam histórias, despertam lembranças e abraçam quem prova.”.

Vitória faz questão de lembrar que a sofisticação já habita o Nordeste há muito tempo. “Aqui existem técnicas ancestrais, ingredientes únicos e uma identidade que não precisa ser moldada ao gosto do Sul ou da Europa para ser respeitada. O Nordeste não é hype. É raiz.”.

O futuro que nasce de dentro

Sol, Hilley e Vitória mostram que a coquetelaria nordestina não busca se encaixar, mas sim honrar. Honrar os saberes que vieram antes, os ingredientes que carregam memória, as mãos que preparam e partilham.

“Não inventamos histórias. Contamos as que vieram antes de nós”, diz Sol. E talvez seja por isso que a coquetelaria feita no Nordeste emocione tanto: ela não performa, ela vive.

Que a força criativa do Nordeste continue sendo celebrada, bebida e reconhecida, hoje e sempre. Porque quando um drink tem alma, ele nunca é apenas um drink.